O Carnaval chegou e, como todo ano, ele traz consigo algo que nem eu sei direito o que é: uma vontade de fugir, de me reinventar, de brincar com a vida. O espírito carnavalesco é isso: um respiro. Uma fuga do óbvio, uma quebra da rotina, uma licença para ser quem nunca ousamos ser nem que seja através de uma viagem profunda pela ficção de um livro de fantasia, para os mais caseiros como eu.
Eu adoro o Carnaval, de uma maneira diferente. Gosto das cores, da música ao fundo, dos risos nas janelas. Gosto da sensação de que o mundo todo se permite ser um pouco mais leve, mas sem ter que estar no meio disso tudo. Eu sou o tipo de pessoa que prefere assistir aos desfiles pela televisão, deitada no sofá com uma xícara de chá, sentindo a vibração da festa sem precisar me perder nela. Gosto do Carnaval como quem olha pela janela de um mundo que não é o meu, mas que me parece bonito, acolhedor. Aquelas horas de descanso, de um silêncio entre as explosões de festa, têm um encanto todo especial.
E observo o mundo... Parece que todo o resto do ano a gente fica preso num lugar rígido, onde as regras são claras e a gente tem que se comportar de acordo com o que esperam da gente. Ser adulto, ser responsável, dar conta do recado. No Carnaval, a gente se dissolve nisso tudo. A gente vê as ruas com mais vida, mais agito. A gente vê os mais tímidos se jogando na avenida, os mais sérios dançando nos bloquinhos como se fosse o último dia de sua vida. E é como se a fantasia, aquela que a gente coloca e também a que se coloca na nossa mente, fosse uma espécie de permissão. Permissão para ser o que der na telha, para se jogar, para rir sem razão, para se perder um pouco no meio da multidão.
Eu não sei bem por que, mas o Carnaval me traz uma sensação de pertencimento. Não é exatamente sobre o revo, e nem sobre os blocos ou as ruas lotadas. É sobre essa ideia de que, por um momento, todos somos iguais. Não importa de onde viemos ou o que fazemos da vida, no Carnaval a única coisa que importa é a alegria. Somos todos anônimos, fantasiados, escondidos por um outro “eu” que se revela por breves e intensos dias.
Quando a gente se despede dessa magia, fica um gosto de saudade no ar. Não é saudade da festa em si, mas do que ela representa. É como se, por um instante, o Carnaval tivesse nos mostrado uma versão mais leve da vida, um jeito de viver sem tantas amarras, sem tanta cobrança. E aí a gente volta para a realidade, com aquela sensação de que a vida poderia ser mais divertida, mais solta... Mas, no fundo, sabemos que essa é uma lição que a gente carrega para o resto do ano: a capacidade de se reinventar, de encontrar momentos de liberdade, de olhar para a vida e pensar “hoje é dia de ser mais leve”....
E então quando a última batida de tambor se silencia, quando o último confete é varrido, o que sobra? Sobra a reflexão de que a leveza que sentimos no Carnaval poderia ser esticada, alongada, distribuída pelos outros meses do ano. Talvez o Carnaval nos ensine que não é só de alegria que a vida é feita, mas de pequenos momentos de fuga, de subversão, de liberdade. A verdade é que a gente usa a fantasia uma vez por ano, mas a gente vive a vida com máscaras todos os dias. No Carnaval, as máscaras caem, as pessoas se permitem ser quem realmente são ou quem sempre quiseram ser. E é um espetáculo delicioso.
Talvez o Carnaval nos ensine a ser um pouco mais ousados, mais capazes de quebrar as regras de vez em quando. Quem sabe o segredo do espírito carnavalesco esteja exatamente aí: não deixar que a rotina, as cobranças e os compromissos nos façam esquecer que a vida também pode ser uma grande festa. Não importa se é fevereiro ou setembro. O espírito está em nós, esperando para aparecer. Porque, no fim das contas, a vida é isso: uma sequência de momentos que precisam de muito mais leveza e muito menos medo.
E a gente vai levando isso adiante. Até o próximo Carnaval.
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